Muri Souza's profile

HOMENS DE FRIDA// .::antes de começar::.

.:: antes de começar ::.

as coisas estavam todas guardadas dentro de mim
elas não se perdem
e como fitas, como ataduras, como restolhos e mortalhas elas me seguem
mas não carrego destroços
enterro e tudo em mim germina, eu sou vida, eu gero vida!
esse é meu cerne e emerge
vida, morte e a nova vida... inesgotável
eu tenho em mim a fonte da Salvação
[Selah]

por toda caminhada, fui colhendo coisas e plantando em mim construindo saberes, somatizando ideias.
desde criança envolvido em artes dramáticas, dança e canto seja na escola ou nas atividades litúrgicas da denominação Batista.
quando vim para o Rio estudei teatro e logo me encantei pelo ballet clássico, um desafio diário e um espírito de arte desenvolvido em equipe que me cativaram. foi ali onde permaneci por mais tempo.
então a necessidade de uma graduação, optei pelo curso de design de moda, onde fui colhendo outros saberes e colocando em prática a necessidade de construir costumes que dialogassem àquilo que aprendi(a) e queria comunicar.
em todos os lugares que estive, a brincadeira do vestir, a fantasia de falar por meio das vestes e da proposta da indumentária ser um compositor fundamental da figura falante, não poderia estar num lugar mais certo: diante da máquina e do estudo da roupa!
aprendi meus primeiros passos sobre têxteis, modelagens, o corpo e as histórias fascinantes...
Flavio Sanctum, Vando Antunes, Suely Gerhardt, Samuel Abrantes, Pedro Sayad, Felipe Eiras, Lilyan Berlim, Isabel Coimbra, Luisa Tavares... tantos, amigos, mestres, confidentes, onquisidores, de perto e de longe, foram tão importantes nesse caminho lúdico de construir saberes...
então num momento certo, depois de tranças e destranças, a vida me trouxe ela, Juno, Exu, o diabo loiro de então Jussilene Santana. o choque foi imediato, verborragias, sangrias e o amor <3
foi ela que me capturou e me expôs onde eu deveria estar... nasceu do projeto de pesquisa científica a necessidade de pesquisar gênero, vestir, antropologia, ser expressão humana! lemos tanto, lemos quase tudo, cruzamos a arte pelo globo para falar disso de nosso "lugar de fala" - as artes!
Então nasceu Ê.LA, um fechamento de ciclos, para não terminar um projeto tão rico num banner... e dali, um abrir de outro ciclo, porquê somos muitos em um, e não poderíamos ser/ter/dar menos.
Preparamos um texto com leituras dramáticas acerca do material estudado, de Butler entrecosturada à Tiburi, passeamos com Virginia Woolf, Guimarães Rosa, Glenn Close e John Banville, Shakespeare, David Hwang, Disney... e disso produzimos o roteiro, cenografia com projeções desses personagens sobre a leitura dramática e ali, no início, como que para atrair a síntese do que trataríamos, eu preparei a primeira performance sem saber que construía meu próprio casulo.
O tempo passou, Jussilene foi para Londres, eu e minhas inquietudes ficamos e então, vi que era hora, estava concomitante a trama de fazer um projeto de performances, percebi a necessidade de um fio condutor para guiar a pesquisa do projeto e estava em minhas mãos: Frida Kahlo.
Uma amiga me emprestou a biografia do Hayden Herrera, li outros livros, recortes de jornal, filmes, videobiografias, ilustrações, as obras, tudo... comecei a encarar de frente a mulher que me assustou por anos, por seus temas macabros e horrendos. Então, eu descobri e abracei meus temores, ela me desnudava!
Os mesmos questionamentos, a mesma latência para desabrochar, as questões de gênero e sociais presentes, a mesma efervescência e pressa de abrir as asas, então, com insegurança, medo, nenhum incentivo ou apoio eu me lancei sobre tudo que tinha para contar essas histórias: balangandãs, flores artificiais e têxteis e assim voei!

dedico primeiramente à minha mainha, avó, matriarca Gildete Souza.
à três mulheres fortes dentre tantas em minha família, minha mãe e primeira inspiração Norma Jeane, minhas tias Eufrásia Maria(madrinha), e Arabela Faria(mãe adotiva).
E a todas as outras e aos homens: Ednewton, Edmilson e Edmar; que com seus confrontos de gênero, de alguma forma me ensinaram o que eu queria e o que não queria, o que deveria ou não ser, fontes de meu avô Crispiniano Menezes, um homem que rompia o machismo do fazendeiro e beijava os filhos!

talvez, assim seja bom para começar...



ph: waldeilson ferreira
projeção e áudio: raphael elias
produção geral: murilo souza
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performance and lecture about gender in international and multi arts: literature, chants, drama, cine, theatre, poetry

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