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Lisboa 2022

Fotografia de Afonso Vieira

Sou muitas coisas, entre elas um sistema de registo. Há dias em que só observo. Há dias em que fotografo coisas. Há dias em que apanho e trago coisas. Há dias em que desenho coisas. Há dias em que contemplo coisas, estudo coisas, disseco, queimo, decontextualise e transformo coisas noutras coisas. Há dias em que fecho os olhos para ouvir melhor as coisas, ou para ouvir coisa nenhuma, ou para parar de me ouvir. Há dias em que escrevo coisas. Há noites em que paro de andar e me debruço sobre os capôs dos carros para escrever. E há dias em que não vejo as coisas e descanso - não; não há dias destes, só momentos. Há dias em que tudo tudo tudo é coisa e há dias em que não há espaço para as coisas. Adoro a palavra É tudo e nada, é qualquer coisa.

Fotografias de Afonso Vieira 

Grés e terra sigillita, conformação manual e cozedura de raku, 2020

Chama-se à claridade que precede o nascer do sol. O mesmo que e . 

Do latim albus, que significa branco e sem brilho.

é um tipo de cantiga trovadoresca que canta os amantes que têm que se separar ao romper do dia.

A minha avó nasceu em Vila Alva, no Alentejo. O gato que vive consigo chama-se Alva à claridade que precede o nascer do dia. 

À Do latim albus, que significa branco e sem brilho.

A claridade não é luz, mas um efeito desta.

Grés, terra sigillata, crina de cavalo. Conformação manual, cozedura de raku, queima direta. 2020.

 surge a partir da forma de , enquanto exercício de exploração e experimentação das possibilidades plásticas da pasta.