A concha, um projeto de cerâmica
The shell, a ceramic project
Esta investigação poética começa a partir da concha como um objeto-lugar que me interessa em sua subjetividade. Criei três peças com argila de cor clara na tentativa de mimetizar, em escala muitíssimo ampliada, três conchas quebradas que tinha comigo, talvez na tentativa pensar um contraste entre aquilo que a concha deveria ser e aquilo em que estas três haviam se tornado ao quebrarem e deixarem de ser um lugar idílico de refúgio, como uma casa que se move ou se carrega.
Lendo A poética do Espaço, de Gaston Bachelard, me deparei com o capítulo “A Concha”, em que o autor olha para a concha habitada enquanto objeto de reflexão. Aqui, no entanto, estou pensando uma concha inutilizada, deslocada a um lugar de relíquia, como um casulo rompido ou um oásis que não faz mais sentido.
Nas três peças, busquei modelar as espirais de “geometria sagrada” a partir das quais se orienta a formação das conchas, como escadarias labirínticas e sinuosas. Como todas as peças começaram com a abertura de placa, a modelagem deu-se num dobrar a argila sobre si mesma para criar as paredes ovaladas das conchas gastrópodas esculpidas, bem como estruturar suas curvas e reentrâncias. Evitei a pintura das peças, aplicando apenas uma camada de vidrado na área interna das peças e conferindo a elas um brilho não muito intenso. Acredito que exista, mesmo que não muito conscientemente, uma vontade de explorar uma noção de vulnerabilidade através da forma da concha quebrada, com esses muitos novos ângulos que se revelam à medida que as paredes externas se rompem e revelam o interior delicado.
This artistic investigation starts from the shell as an object-place that interests me in its subjectivity. I have created three pieces with light colored clay in an attempt to mimetize, in a much bigger scale, three broken seashells I had with me, maybe to thin of a contrast between that which the shell is supposed to be and what these three had become upon breaking, no longer being that idilic place of refuge, as a house that moves or carries itself.
Lendo The poetics of space, by Gaston Bachelard, I’ve stumbled upon the chapter “The shell”, in which the author looks to the habitated shell as the object for his ponderations. I am here, however, thinking of a shell that has been broken, displaced to a place of relic, as a ruptured cocoon or an oasis that no longer makes sense.
For the three pieces, I’ve tried to sculpt the spirals of “sacred geometry”, as Bachelard would say, from which the shells form, as labyrinth-like staircases. Having started every piece from a flat slab of clay, the modelling happened from folding the clay, in a way, over itself to create the oval walls of these three gastrophoda shells. I have chosen to not paint the pieces, resorting to a thin transparent glaze on their inner sides. I believe that there is, even if unconsciously, a wish to explore a certain notion of vulnerability through the form, this image of a broken seashell, with all these new angles revealing themselves as the external walls break to shine light on a delicate interior.
As peças
The pieces
Os pequenos grânulos da argila queimada junto das voltas e curvas e a diferença dentro-fora do acabamento das conchas me fizeram encontrar paisagens enquanto eu fotografava as conchas, algo quase topográfico que começou a me interessar. Aqui, essa escala menos tímida permite uma interação mais curiosa e menos frágil com o objeto. Em certa medida acredito que sejam peças bastante arquitetônicas em toda sua organicidade de formas em curva.
The small grains and flakes on the ceramic along with the curves and the inside-outside difference on the glazed finished made me find landscapes, in a way, as I photographed the pieces, almost as if there was a topography aspect to them, which captured my interest. Being much larger than the actual seashells, there is a less introverted scale to interact with. To a certain measure, I believe these pieces to be quite architectonic in all its fluidity of shape.
As vistas
The vistas
Obrigado por chegar até aqui
Thank you for coming this far
