Antivacinas: grupos se baseiam em informações contraditórias à análises científicas
Especialistas discorrem sobre os mitos e mentiras discutidas em grupos no Facebook contrários à vacina contra a Covid-19, abordando kit covid, alteração de DNA, vacinação infantil e doses de reforço
Embora o Ministério da Saúde tenha admitido, em documento enviado à CPI da Covid em 2021, a ineficácia do chamado kit covid, o infectologista e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Fábio Lopes Pedro, é a favor do uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19. “O uso faz sentido. Não tivemos ainda um estudo conclusivo a partir de ensaios clínicos que consigam provar essa ineficácia”, afirma ele, desconsiderando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e estudos feitos no Brasil e no exterior, que classificaram como ineficaz o uso dos medicamentos cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina no tratamento da Covid-19.

Sem citar os autores, Fábio Lopes Pedro diz que “há estudos que comprovam a eficácia de medicamentos como ivermectina, hidroxicloroquina e nimesulida por via inalatória, e que eles têm mais de 18 substâncias que podemos usar na fase inicial do Covid-19”. Ao defender o uso desses medicamentos sem comprovação científica contra a doença, ele faz questão de ressaltar sua formação para falar do tema: “Sou epidemiologista e doutor em estudos médicos, é minha área de interesse”. Sem detalhar os estudos, ele afirma que “nós temos informações médicas muito úteis mostrando que essas medicações ajudam sim. Acredito que nos próximos anos a gente vá ter informações conclusivas para isso, que vão verificar as informações que foram acertadas e equivocadas sobre o uso desses medicamentos”.

Avaliações como essa do médico Fábio Lopes Pedro contribuem para a divulgação de mitos e mentiras em relação à vacinação contra da Covid-19, que matou mais de 600 mil brasileiros até o começo de junho. Em dezembro de 2020, antes mesmo de a vacinação começar no Brasil, Bolsonaro questionou os possíveis efeitos colaterais das vacinas contra o coronavírus, tomando como exemplo a da Pfizer/BioNtech: ”No contrato da Pfizer está bem claro, nós (a Pfizer) não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu”. 

Kit Covid

No início da pandemia, o uso da ivermectina foi muito defendido pelos antivacinas. Contudo, foi constatado por meio de estudos científicos laboratoriais, como é o caso do estudo colombiano “Effect of Ivermectin on Time Resolution of Symptoms Among Adults With Mild COVID-19”, publicado na JAMA Network, que comprovam a ineficácia do medicamento.

O estudo informa que “entre adultos com COVID-19 leve, um curso de 5 dias de ivermectina, em comparação com placebo, não melhorou significativamente o tempo de resolução dos sintomas. Os resultados não suportam o uso de ivermectina para o tratamento de COVID-19 leve, embora ensaios maiores possam ser necessários para entender os efeitos da ivermectina em outros resultados clinicamente relevantes”.

A hidroxicloroquina, também muito defendida pelos antivacinas teve a ineficácia estudada e divulgada pela Associação Médica Brasileira. “Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, diz a AMB em nota publicada no dia 23 de março de 2021.

Os dois medicamentos fazem parte do kit covid,, usado para o suposto tratamento e prevenção da doença. O kit foi defendido por António Abreu (58), um dentista do Rio de Janeiro antivacina, em uma publicação no Facebook: “Os “cientistas” ideologizados de hoje não conseguem provar as propriedades antivirais do “off label” (extra bula) do Hidroxicloroquina, Ivermectina, Azitromicina e outros fármacos. Contudo, elas têm atividades antivirais clínicas e também metanálises de centenas de estudos científicos. Têm propriedades testadas com êxito em viroses há anos, embora tenham sido fabricadas para outras doenças. Por estas propriedades “off label” estão sendo usadas na Covid-19 com grande êxito clínico". Tentamos entrar em contato com Antônio para saber mais sobre a opinião dele, mas não obtivemos resposta.

O infectologista Hemerson Luz, do Hospital das Forças Armadas, comenta que o uso do “kit covid” foi pensado por especialistas no início da pandemia, mas somente quando não havia ainda estudos e dados concretos para confirmar a ineficácia: “O kit covid foi uma grande esperança. Fez parte dos protocolos do Ministério da Saúde, mas teve uma época que começaram a observar pacientes fazendo uso de kit covid sendo internados em UTI e indo ao óbito. Não fazia muita diferença terem tomado ou não”. Depois, continua ele, “vieram os estudos também falando sobre a ineficácia e eu parei de usar. Eu sempre vou seguir a ciência, sempre que tiver um trabalho científico mostrando a eficácia ou a não eficácia de um determinado medicamento é a ciência. Todos queremos medicamentos que impeçam a evolução e o óbito pela Covid-19, mas não funciona como gostaríamos”. Luz afirma que a hidroxicloroquina, para ter algum efeito significativo, “teria que ser usada em doses altas por mais tempo e a Covid é uma doença rápida que pode se manifestar e levar ao óbito em apenas dez dias”.

Em relação ao uso da ivermectina, diz ele, “é uma droga que já foi utilizada como uma droga antiviral, classificada como antiparasitária, e já foi utilizada em rotavírus e outros. A dose necessária para fazer o bloqueio do coronavírus deveria ser altíssima, então não há possibilidade de utilizá-lo assim em seres humanos”. O infectologista afirma que já utilizou o medicamento na época que estava em protocolo no Ministério da Saúde. “Prescrevi, mas depois começaram a sair outros estudos mais conclusivos indicando que não é tão eficaz quanto a gente esperava. Não vale a pena fazer o uso”.

O virologista Flávio Guimarães explica que a ivermectina e a hidroxicloroquina são duas drogas antiparasitárias. “A hidroxicloroquina tinha função no tratamento da malária, descrita há muitos anos, e a ivermectina no tratamento de verminoses intestinais e outros parasitas, mas nenhum deles teve atividade viral provada. O que aconteceu durante a pandemia da Covid-19 é que foram testadas como reposicionamento de fármacos, quando você pega um remédio que tem outra função e testa para ver se podem ser usados para uma virose”, detalha.

Segundo ele, foi observado que o medicamento tem atividade antiviral ‘in vitro’, mas nunca foi comprovada a sua funcionalidade ‘in vivo’, ou seja, depois que uma pessoa tomava esse remédio. “Às vezes no ́ in vitro’, no laboratório, você conseguiria em doses muito altas ver uma atividade antiviral, mas nos pacientes, depois de vários estudos sérios, chegou-se à conclusão de que essas duas drogas infelizmente não têm ação contra o vírus que causa a Covid”.

Infertilidade e DNA

A ideia de que a vacina pode causar infertilidade também circula entre os anti-vacinas. “A humanidade será submetida a um gigantesco experimento de consequências incertas, podendo até afetar a fertilidade humana", comentou no Facebook Paulo Eneas. Ele é pré-candidato a deputado federal (PMB) por São Paulo e trabalha com análises políticas nacionais e internacionais de viés conservador e de direita. 

O PEBMed, maior portal de atualização em Medicina no Brasil, publicou uma matéria sobre intitulada “A vacinação contra o SARS-CoV-2 e o mito da infertilidade”, que cita a publicação do jornal científico BMJ com a declaração da Association of Reproductive and Clinical Scientists and the British Fertility Society, divulgada em fevereiro de 2021, concluindo que há nenhuma evidência científica que indique que a vacinação anti-Covid-19 poderia ter risco para a fertilidade masculina ou feminina“.

Ao PEBMed, o professor de diabetes e cuidados primários e medicina vascular Kamlesh Khunti, da “University of Leicester”, afirmou que estava preocupado que os rumores de infertilidade pela vacina estivesse contribuindo para a menor aceitação da dela, inclusive entre médicos “vimos muita desinformação de que a vacina pode ter um efeito na fertilidade de mulheres mais jovens – isso aparece regularmente nas mídias sociais”. A orientação da associação britânica refuta qualquer ligação entre as vacinas e a fertilidade. “Não há absolutamente nenhuma evidência, e nenhuma razão teórica, de que qualquer uma das vacinas possa afetar a fertilidade de mulheres ou homens”, disse Khunti.

Raj Mathur, presidente da British Fertility Society e líder clínico de medicina reprodutiva da Manchester University NHS Foundation Trust, disse que “Além disso, a vacinação é a melhor maneira de reduzir o risco de pegar covid-19 na gravidez e, se você pegar na gravidez, de certa forma o resultado é pior”.

Hemerson Luz explica que mesmo a nova vacina da BioNtech, que usa o RNA mensageiro na composição, não é capaz de alterar o DNA "a vacina não altera o DNA, o que pode alterar o DNA são os vírus. Exemplo clássico é o HPV, que invade o trato genital das mulheres, altera células do útero e vira câncer”. Luz diz que a vacina da Pfizer é desenvolvida por uma empresa de um casal alemão [BioNtech] que faz pesquisas para desenvolver a vacina contra o câncer há anos. “A Pfizer viu nessa tecnologia de RNA mensageiro a possibilidade de usar na vacina contra o coronavírus”, disse ele.

“A vacina foi testada em fase clínica, laboratorial e deu certo. Hoje a vacina da Pfizer é super segura, com somente 0,4% de efeitos adversos leves a cada 100 mil doses, muito menos
efeitos adversos do que a CoronaVac e a Astrazeneca. É uma tecnologia segura. A famosa miocardite que dá em alguns adolescentes é tratável com corticoide, não fica sequela, e não é o RNA mensageiro que faz esse efeito, mas sim o líquido que ele está imerso, as nanopartículas de gordura que são usadas para dar mais estabilidade e entram na célula dando efeito inflamatório, mas é muito raro”, completa.

Vacinação de crianças

Contrário à vacinação de crianças, Fábio Lopes Pedro disse que “os estudos com as vacinas foram feitos inicialmente em adultos. Somente em Outubro do ano passado foram iniciados estudos para à área de pediatria, e a aceleração da vacinação em um público que não sofreu pela doença me causa estranheza”.
Embora Lopes Pedro tenha afirmado que os estudos tiveram início somente em Outubro de 2021, a Universidade de Oxford já havia divulgado uma nota em fevereiro de 2021, anunciando o início dos estudos e testes da fase II da vacina contra o coronavírus em crianças e adolescentes com idade entre 6 e 17 anos.

Grace Li, bolsista de pesquisa clínica pediátrica do Oxford Vaccine Group, disse na publicação da Oxford que os estudos estão progredindo e mostrando eficácia. “Este estudo desempenha um papel importante para ajudar a proteger as crianças no futuro. Já vimos que a vacina é segura e eficaz em adultos, e nossa compreensão de como as crianças são afetadas pelo coronavírus continua evoluindo”.

Na mesma publicação da Oxford sobre os início da fase II de testes das vacinas em crianças, Rinn Song, pediatra e cientista clínico do Oxford Vaccine Group, ressalta que a pandemia causou prejuízo na educação das crianças. “A pandemia do COVID-19 teve um impacto negativo profundo na educação, no desenvolvimento social e no bem-estar emocional de crianças e adolescentes, além de doenças e apresentações de doenças raras e graves. Portanto, é importante coletar dados sobre a segurança e a resposta imune à nossa vacina contra o coronavírus nessas faixas etárias, para que possam se beneficiar da inclusão em programas de vacinação em um futuro próximo”.

Fábio Lopes Pedro também deu sua opinião pessoal sobre a vacinação de crianças: “Se me perguntassem sobre a vacinação dos meus filhos, eu certamente diria não. Neste momento não temos dados e segurança para isso. Temos que fazer uma análise de risco e benefício. Não há coesão nem lógica“.

Contudo, Flávio Guimarães garante que há informações e estudos suficientes para garantir a eficácia e a segurança da vacinação em crianças menores de 10 anos: “Testes foram feitos com vacinas aplicadas em crianças, e apresentaram resultados para os Órgãos reguladores. Foram aprovadas e a aplicação é segura. Mesmo que as crianças sejam menos suscetíveis à doença grave pelo covid, uma determinada quantidade de crianças pode adoecer e vir ao óbito. Inclusive, temos casos de óbitos na idade mais jovem devido à pouca vacinação das crianças”.

Guimarães também disse que a não vacinação de crianças pode prejudicar a redução dos índices de infecção: “Quando você protege uma certa parte da população, é natural que outras populações não protegidas comecem a ter taxas de mortalidade mais elevadas, Ao não vacinar as crianças, mesmo que elas fiquem menos doentes, podem transmitir o vírus. É importante que as crianças sejam vacinadas, para a gente conseguir exercer o papel coletivo da vacina e parar com a disseminação do vírus e da pandemia“.

O especialista Hemerson Luz disse que não é cedo para vacinar crianças e confirma a segurança da vacinação para o público infantil: “Não é cedo para vacinar. Se pegarmos os dados estatísticos do Brasil não há relatos de efeitos adversos graves em crianças vacinadas, mas se olhar o número de crianças que vieram ao óbito durante a Covid, já passam de 1.600 desde o início da pandemia. Se você tem uma doença, mesmo que tenha uma letalidade baixa nessa faixa etária, se for seu filho será alta. A vacina está salvando vidas, diminuindo a possibilidade de evolução grave da doença, e não há histórico de efeitos adversos graves ou óbitos pela vacina. Isso no mundo todo”.

Doses de reforço

Em julho de 2021, o Ministério da Saúde do Brasil, juntamente com a Universidade de Oxford, iniciou os testes para conferir a eficácia da terceira dose da vacina contra o coronavírus em testes na população brasileira. Os antivacinas reclamam que o excesso de doses da vacina pode causar efeitos adversos graves e desconhecidos a longo prazo. “Eu particularmente não vou tomar a terceira e não tiro a razão de quem não quer tomar nem a primeira. Tive reações adversas depois da segunda dose, como episódios de taquicardia e palpitações no coração que os médicos não sabem diagnosticar", comentou Larissa Franco, moradora de Pirajuí, em resposta à publicação do Correio Braziliense no Facebook sobre a preocupação de especialistas com a baixa adesão à 3a dose da vacina.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou por unanimidade recomendações sobre a aplicação de doses de reforço de vacinas contra a Covid-19. Ela busca ampliar o alcance da aplicação das doses de reforço com uma estratégia pensada na melhor cobertura vacinal para a população. A informação foi divulgada pela diretora-relatora Meiruze Sousa Freitas, durante a 18a Reunião Extraordinária Pública da Dicol.

A dose de reforço é aprovada e estimulada por três das dez principais agências reguladoras do mundo. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) também trata a dose de reforço como segura e eficaz, que pode aumentar o índice de anticorpos diante da alta taxa de transmissão de variantes como Omicron, a que mais circula atualmente, já que talvez possa ser substituída novamente pela variante Delta. É necessário manter o nível de anticorpos sempre elevado. A Food Drug Administration (FDA), Órgão dos EUA semelhante à Anvisa, também apoia a aplicação de mais doses para conter a transmissão da variante Ômicron.

Embora haja recomendações, estudos científicos laboratoriais que confirmam a necessidade e eficácia das doses de reforço, o infectologista Fábio Lopes Pedro diz que após receber as doses de reforço, sejam elas feitas com intervalos curtos ou longos, o corpo criará em algum momento resistência às vacinas, tornando elas completamente ineficazes: “Não vejo mais que três doses sendo necessárias, eu critico”.

“Sabemos que pode causar chamamos de hiperresponsividade vacinal. Múltiplas doses do mesmo imunobiológico fará com que haja bloqueio de anticorpos e com que a vacina funcione menos. Há um intervalo necessário e um limite de doses que cada pessoa pode tomar na vida. Não há nenhum artigo médico que mostre o porquê das quatro doses de vacina. Infelizmente, ninguém assume publicamente que a terceira e quarta dose foi criada para pacientes que inicialmente se vacinaram com Corona-Vac“, diz Lopes para justificar sua opinião.

O especialista Flávio Guimarães trabalha diretamente com estudos sobre aperfeiçoamento de imunobiológicos, e afirma que a vacinação poderá ter níveis de eficácia inferiores com a vacinação a curto prazo, porém, o corpo não desenvolverá resistência à vacina, e ainda terá eficácia: “Isso é natural para qualquer vacina. Elas estimulam nosso sistema imunológico, e as células que produzem anticorpos vão ficar circulando no nosso corpo, e como qualquer outra célula vai morrendo. Se não houver um novo estímulo [doses de reforço] elas vão deixando de existir e a vacina vai perdendo sua eficácia. O corpo não cria resistência à vacina, o que vai acontecer é que você irá manter níveis elevados de anticorpos o tempo todo”. 

“Qualquer pessoa que tomar vacina repetidamente vai desenvolver células de defesa. Se tomar uma vacina com muita repetição ela não terá o efeito que precisa porque já terão anticorpos circulando. Se a gente pensar, tomamos vacina para gripe todo ano. As doses de reforço que estamos tomando é porque conhecemos pouco sobre a longevidade da vacina, é uma forma de prevenção e garantia de que terão anticorpos circulando. Com o passar da pandemia, esperamos que as doses sejam aplicadas em períodos mais espaçados“, completa Guimarães.

O infectologista Hemerson Luz, favorável às doses de reforço, e afirma também que elas não foram pensadas somente para vacinados inicialmente com a CoronaVac: “O Chile é um país que usou amplamente a CoronaVac, e os estudos de lá demonstraram que tinha uma eficácia até maior do que a que foi apresentada inicialmente de 54%, chegando a 80%. A CoronaVac teve seu papel de importância”.

“A dose de reforço foi criada para todas as vacinas. Ela existe para que a dosagem de anticorpos no nosso corpo continue circulando por mais de 5 meses, já que a tendência é diminuir após esse tempo. Hoje a variante Ômicron se caracteriza por enganar o nosso sistema imunológico, justamente de pessoas vacinadas e que tiveram, a única diferença é que a pessoa vacinada estará protegida para casos graves, exceto alguns casos que podem evoluir pela presença de comorbidades”, diz o especialista sobre o comentário de Lopes que doses as de reforço foram pensadas somente em quem se vacinou com CoronaVac.
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