Não basta abrir a janela

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Não basta abrir uma janela, 2022

O nome deste conjunto de obras está relacionado com um poema de Alberto Caeiro, onde ele expressa que para se experienciar a natureza, não se tem que apenas “abrir a janela”. É necessário procurar a essência desta, perceber as sensações que esta nos invoca, entrar para dentro da janela. Não só através de uma observação rápida ou de sonhos, mas sim ficar no local e apreciar tudo o que a paisagem transmite e sentir tudo o que nos rodeia.

A procura desta essência começou ao longo do rio Lis, ao observar de perto a corrente do rio, os sons e cheiros que este transmite no seu percurso e na paisagem que o rodeia. Durante esta exploração, fiz alguns registos gráficos e sonoros para puder tratá-los mais tarde.

Esta pesquisa inspirou-me para criar, primeiramente, um pequeno livro de artista. Utilizei o tecido de feltro de forma que ao pintar neste, as cores se fundissem com a do tecido. De modo a não criar uma grande disparidade entre as cores, escolhi um feltro de uma cor branco-marfim, que é uma cor mais natural do que a utilização de branco puro.

Quis criar uma semelhança entre o tecido e a água do rio, sendo que à tona a água parece um tecido brilhante que não é possível ser penetrado e alterado. Ao coser os painéis de tecido cheguei sinto que cheguei a esse tecido impenetrável, contínuo e sem fim. Por meio de marcadores criei várias formas orgânicas, semelhantes às criadas através do reflexo da luz na água do rio.

Decidi filmar este processo, assim colmatando a ligação entre o rio e o livro. Ao utilizar o som que gravei durante o percurso no rio em diferentes pontos deste, elevei a obra a outro nível. Sobrepus algumas das filmagens tanto da pintura do livro, como do decorrer do percurso no rio, assim completando a composição deste projeto videográfico.

O livro de artista é composto por sete painéis de tecido de feltro, cosidos á mão com linha branca. Durante a sua pintura foram usados marcadores de ecoline, de acrílico e tinta permanente, com diferentes tons de azul. Algumas manchas foram posteriormente criadas através de aguadas de ecoline azul-turquesa.

O vídeo é composto pela filmagem do processo da pintura do livro com os marcadores, e sobreposto por quatro filmagens do rio Lis em diferentes localizações. A composição sonora de fundo é propositadamente fora de sincronização, dando a sensação da união das várias matérias que constituem a paisagem do rio. Ao todo o vídeo tem cerca de cinco minutos, e acompanha o visionamento do livro de artista, que está colocado ao seu lado.

Através destas obras, pretendo invocar uma sensação de contemplação perante a natureza, o modo de como nos conectamos com ela. Do mesmo modo perceber a conexão feita entre os vários componentes da paisagem, como as pedras, a água do rio, as árvores, a luz … Como esta conjunto harmonioso precisa de ser admirado, apreciado e protegido para se manter presente ao nosso lado, e não desaparecer.