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Conflicts at University of São Paulo Student Housing

Conflitos habitacionais no Conjunto Residencial da USP (CRUSP) / 
Housing conflicts at University of São Paulo Student Housing

Dentro da cidade universitária, na zona oeste da cidade de São Paulo, situa-se o Conjunto Residencial da USP, conhecido popularmente por sua sigla, CRUSP. Construído há mais de 50 anos, o conjunto foi inaugurado com algumas das outras partes mais antigas da universidade e compõe parte de seus prédios mais antigos e clássicos.

Sua função é, em suma, ser um instrumento de balanceamento socioeconômico, provendo habitações próximas de suas respectivas faculdades para os estudantes de primeira graduação da universidade que respondem aos critérios estabelecidos pela Superintendência de Assistência Social (SAS), responsável pela coordenação e administração do conjunto.

Em seu projeto original, consistia materialmente em longas lâminas com térreos livres sob pilotis servindo como acesso, passagem e área de convivência coberta para os residentes. A referência aos ideais e formas do movimento arquitetônico moderno eram evidentes. Contudo, o passar do tempo não foi gentil, por assim dizer, com o conjunto, que sofreu várias alterações materiais, descaracterizando partes de sua arquitetura original e principalmente evidenciando uma fraca constância de manutenções, gerando ambientes altamente degradados, danificados e sem uso.

A necessidade e o plano de reformas substanciais no conjunto vêm sendo carregado desde 2016, sem sair do papel. O pavio, porém, parece estar sendo findado neste mês, quando a SAS, responsável pela administração do conjunto, comunicou que as reformas iriam ter início. O plano de reforma está sendo executado pela Superintendência do Espaço Físico (SEF) da USP, que concentra arquitetos, engenheiros e outros profissionais habilitados para a execução das reformas planejadas.

Do lado da universidade, a SAS explica que as reformas serão iniciadas pelo bloco D e caminharão gradualmente para os outros edifícios. O plano, segundo eles, é realocar temporariamente os alunos do bloco D para vagas existentes nos outros edifícios do conjunto enquanto durarem as obras. O aluno também pode optar por receber uma bolsa-auxílio de R$500 e se mudar do conjunto residencial enquanto durarem as reformas. A SAS afirma que "[...]o Serviço Social da SAS tem contatado todas/os as/os moradoras/es desse Bloco (D), assim como seus hóspedes, para conhecer suas necessidades, oferecendo possibilidades para a melhor transição no período de obras.[​​​​​​​...]".

As obras, segundo a SEF, devem acontecer para melhorar as condições de acessibilidade e convívio no CRUSP. Os prédios que atualmente não contam com escada de emergência e elevador acessível receberão um novo núcleo. O plano estuda também a conversão de algumas unidades-padrão em unidades acessíveis para que o conjunto possa receber cadeirantes. É também estudada a mudança das áreas comunitárias dos blocos (cozinhas, lavanderias, salas de estudos etc). Estas áreas, quase inutilizadas por conta da evidente destruição, seriam transformadas em mais unidades e cada um dos apartamentos seria suprido com cooktop, máquina lava e seca e espaço para estudos.

Para os habitantes do CRUSP, o problema parece ser mais delicado do que a SAS têm em seus papéis. Ao conversar com alguns dos residentes, questões que parecem não aparecer nos memorandos enviados pela SAS são relatados.

"O CRUSP na verdade têm muitas vagas fantasmas. São vagas que o SAS acha que estão desocupadas ou que têm vagas porque é o que consta nos papéis, mas na realidade essas unidades muitas vezes já estão ocupadas por pessoas que não têm cadastro ou por acompanhantes de pessoas que têm cadastro aqui. Existem famílias de estrangeiros com crianças aqui no CRUSP." 
- Residente do CRUSP, anônim_.

"O prazo de 15, 30 dias estabelecido pela SAS para a realocação dos alunos é muito pequeno, seria necessário muito mais tempo para que cada um aqui achasse uma vaga em outro bloco."
 - Residente do CRUSP, anônim_.

Os habitantes entrevistados de outros blocos, que só serão reformados mais adiante, declaram:

"A SAS também não tem muita noção, porque colocar alguém X no apartamento é meio estanho, não dá pra saber a índole da pessoa, não da pra saber se vai ficar um clima bom no apartamento, eles não sabem o que vai acontecer." 
 - Residente do CRUSP, anônim_.

"Já existe uma ação judicial coletiva contra a SAS para paralisar a reforma e pra que as pessoas tenham tempo. Tem gente que simplesmente não vai sair, eu tenho certeza que não sai." 
- Residente do CRUSP, anônim_.


Informações conflituosas, destino incerto, perigo iminente

Com justificativas de ambos os lados e informações que se chocam em praticamente todos os discursos, é impossível dizer qual vai ser o caminho que será seguido daqui em diante. Fatos incontestáveis são, contudo, os riscos que todos ali correm, dentro e fora do conjunto residencial. A falta de equipamentos de segurança adequados ou fora de norma tornam as torres um prato cheio para problemas futuros.

As cozinhas comunitárias, depredadas, contém fogões destruídos, sem bocas e tubulações de gás em estado duvidoso. Mangueiras de incêndio não estão posicionadas junto a seus hidrantes e extintores sumiram, seja qual for o motivo. Tomadas velhas estão espalhadas pelas áreas comuns dos blocos, e os corredores estão, em muitos pontos, obstruídos. Tudo isso em torres de 6 andares sem núcleo para escape.

Equacionar as questões humanas vai ser, de longe, o dever mais árduo dos responsáveis legais pelo conjunto. 


Obrigado! / Thank You!



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